Não caio na Demagogia barata de fingir que o Povo é Inimputável...

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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Parte 3 do Polvo Soares

Parte 3 do Polvo Soares


publicado a 17 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 245

A empresa Emaudio, dirigida na sombra pelo Presidente Soares, arrancou pouco após a sua eleição e, segundo Rui Mateus em Contos Proibidos, contava "com muitas dezenas de milhares de contos "oferecidos" por (Robert) Maxwell (...)  consideráveis valores oriundos do "ex-MASP" e uma importante contribuição de uma empresa próxima de Almeida Santos."

Ao nomear governador de Macau um homem da Emaudio, Carlos Melancia, Soares permite juntar no território administração pública e negócios privados.
Acena-se a Maxwell a entrega da estação pública de TV local, com a promessa de fabulosas receitas publicitárias. Mas, face a dificuldades técnicas, o inglês, tido por Mateus como "um dos grandes vigaristas internacionais", recua.

O esquema vem a público, e Soares acusa os gestores da Emaudio de lhe causarem perda de popularidade, anuncia-lhes alterações ao projecto e exige a Mateus as acções de que é depositário e permitem controlar a empresa.

O testa-de-ferro, fiel soarista, será cilindrado - tal como há semanas sucedeu noutro contexto a Manuel Alegre.
Mas antes resiste, recusando devolver as acções e esperando a reformulação do negócio.

E, quando uma empresa reclama por não ter contrapartida dos 50 mil contos (250 mil euros) pagos para obter um contrato na construção do novo aeroporto de Macau, Mateus propõe o envio do fax a Melancia exigindo a devolução da verba.

O Governador cala-se. Almeida Santos leva a mensagem a Soares, que também se cala.
Então Mateus dá o documento a 'O Independente, daqui nascendo o escândalo do fax de Macau".

Em plena visita de Estado a Marrocos, ao saber que o Ministério Público está a revistar a sede da Emaudio, o Presidente envia de urgência a Lisboa Almeida Santos (membro da sua comitiva) para minimizar os estragos. Mas o processo é inevitável.

Se Melancia acaba absolvido, Mateus e colegas são condenados como corruptores.

Uma das revelações mais curiosas do seu livro é que o suborno (sob o eufemismo de dádiva pública") não se destinou de facto a Melancia mas "à Emaudio ou a quem o Presidente da República decidisse".

Quem afinal devia ser réu ?

Os factos nem parecem muito difíceis de confirmar, ou desmentir, e no entanto é mais fácil, mais confortável, ignorá-los, não se confia na justiça ou porque não se acredita que funcione em tempo útil, ou por que se tem medo que funcione, em vida, e as dúvidas, os boatos, os rumores, a 'fama  persistem.

E é assim, passo a passo, que lentamente se vai destruindo de vez a confiança dos portugueses nas instituições.
Por incúria, por medo, por desleixo, até por arrogância, porventura de fantasmas e até... da própria sombra.

N.A. Como adenda, e perdoem-me o sarcasmo que é preciso por as coisas no seu devido lugar, talvez conviesse meditar no generoso silêncio dedicado ao conteúdo destes artigos de Vieira, e ao livro de Mateus, por parte de alguns dos e (ste) ticistas do regime quando comparado com a, também ela generosa, campanha em curso contra alguns 'antros' 'anônimos de pensamento livre e desalinhado...

Ou, será que as coisas já evoluíram tanto, tanto, que agora só existem depois de serem tratadas em blog ?

É que a Grande Reportagem tem uma tiragem superior a 100000 exemplares, nós ainda não...

Entretanto, por essas e por outras, do Brasil até gozam...
Como adenda suplementar convém frisar que o problema não é novo, ou sequer isolado, antes é estrutural e crónico.

Atente-se na GALP e nas maravilhas que por lá se passa(ra)m.
No mínimo, os factos - 'estranhos - mereceriam uma investigação apurada,  judicial e jornalística, no entanto...


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Polvo soarista

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